quarta-feira, 25 de novembro de 2009

SESSÕES MEDIÚNICAS - Parte III

Classificação - tipos de sessões mediúnicas

Sessões de desobsessão - Kardec classificou as obsessões em três tipos, segundo o grau de atuação do espi­rito e submissão da vi­tima: obsessão simples, fascinação e subjugação.
A obsessão simples pode ser tratada em sessões de doutrinação, sem maiores complicações. O obsedado é geralmente um médium em desenvolvimento, mas nem sempre. Em muitos casos, uma vez esclarecido o espi­rito e o paciente se dedicando ao estudo e prática da doutrina, liberta-se e converte o obsessor em seu amigo e colaborador.
Mas a fascinação e a subjugação exigem tratamento mais intenso e restrito a pequeno grupo de trabalho, integrado por médiuns conscientes da responsabilidade e das dificuldades do serviço e dirigido por pessoas competentes e estudiosas. A cura pode ser obtida em poucos dias ou levar meses e até anos, com fases intermitentes de melhora e recaí­da. Só a insistencia no trabalho desobsessivo e a vontade ativa do paciente no sentido de libertar-se podem apressar os resultados. A dificuldade maior está sempre na falta de vontade do paciente, acostumado a ligação obsessiva, numa situação ambivalente, em que ao mesmo tempo quer libertar-se mas continua apegado ao obsessor, sentindo sua falta quando ele se afasta e invocando-o inconscientemente.
Há obsessores que se consideram, com razão, obsedados pela sua ví­tima. Idéias, hábitos, tendencias alimentadas pelo obsedado constituem elementos de atração para o obsessor. Nesses casos, o trabalho maior da desobsessão é com a própria vi­tima. Os dirigentes do trabalho precisam estar atentos, vigilantes quanto ao comportamento do obsedado, ajudando-o constantemente a reagir contra as influencias do espi­rito e contra as suas próprias tendencias e hábitos mentais. A mente do obsedado, nesses casos, é o pivô do processo. Ensinar-lhe a controlar e dominar sua mente pela vontade, com apoio no esclarecimento doutrinário, é o que mais importa. Do domí­nio da mente decorre naturalmente o domí­nio das emoções e dos sentimentos, que são por assim dizer os elementos de atração do espi­rito obsessor.
Nenhuma atitude exorcista, na tentativa de afastar o obsessor pela força ou através de ameaças dá resultados. A doutrinação é um trabalho paciente de amor. Deve-se compreender que estamos diante de casos de reconciliação de antigos desafetos, carregados de ódio e de cumplicidade mútua em atividades negativas. Todo e qualquer elemento material que se queira empregar são passes complicados, preces insistentes e demoradas, uso de objetos ou coisas semelhantes, tudo isso só servirá para prolongar o processo obsessivo. O importante é a persuassão amorosa, o esclarecimento constante de obsedado e obsessor.
O doutrinador é sempre auxiliado pela ação dos Espi­ritos sobre obsessor e obsedado. Todas as prescrições de medidas prévias a serem tomadas pelos membros da equipe de médiuns, como abstenção de carne, repouso antes do trabalho, abstenção de fumo e álcool, comportamento angélico durante o dia e assim por diante, não passam de prescrições secundárias. Os médiuns tem naturalmente o seu comportamento normal regidos por princí­pios morais e espirituais. Se não o tiverem, de nada valerão essas improvisações de santidade. Se o tiverem, não necessitam desses artifí­cios.
Como Kardec explica, a única autoridade que se pode ter sobre os espíritos é a de ordem moral, e o que vale no socorro espiritual não são medidas de última hora, mas a intenção pura de médiuns e doutrinadores, pois que o Espiritismo é uma questão de fundo e não de forma.
As medidas que se devem tomar, quando médiuns e doutrinadores não forem suficientemente esclarecidos, são apenas as precauções que o bom senso indica: não exceder-se na alimentação, na bebida, nos falatórios impróprios e maldosos no dia do trabalho. É necessário afastar os artifícios do religiosismo mí­stico e as pretensões de importância pessoal no ato de doutrinar. Médiuns e doutrinadores são apenas instrumentos conscientes, mas instrumentos dos Espí­ritos benevolentes que deles se servem na hora do trabalho. O mérito individual do cada um está apenas na boa intenção e no amor que realmente os anime no serviço fraterno.
É natural a tendencia mística na prática mediúnica, proveniente do sentimento religioso do homem e dos resí­duos do fanatismo religioso do passado, em que fomos cevados no medo ao sobrenatural e no anseio de salvação pessoal através de sacramentos e atitudes piegas. Mas temos de combater e eliminar de vez esses resí­duos farisaicos e egoí­stas, tomando uma atitude racional e consciente nas relações com os espi­ritos, que ainda ontem eram nossos companheiros na existencia terrena e que a morte não transformou em santos ou anjos.
O meio espí­rita está cheio de pregadores de voz untuosa e expressões mí­sticas, tanto encarnados como desencarnados, mas a doutrina não nos indica o caminho do artifí­cio e do fingimento e sim o das atitudes e posições naturais, sinceras e positivas, que não nos levem a cobrir com peles de ovelha nosso pelo grosso de lobos. O povo se deixa atrair facilmente pelo maravilhoso, pelos milagres e milagreiros, mas os espí­ritos, que nos vêem por dentro, não se iludem com as farsas dos santarrões.
A criatura humana é o que é e traz em si mesma os germes do seu aperfeiçoamento, não segundo as convenções formais da sociedade ou das instituições de santificação, mas segundo as suas disposições internas. Uma criatura espontânea, natural, aberta, choca-se com os artifí­cios, as manhas e os dengos de pessoas modeladas pelos figurinos da falsidade. Os espí­ritos, mais do que nós, sentem logo o cheiro de perfume barato e ardido desses anjinhos de procissão, cujas asas se derretem com os pingos da chuva. O Espiritismo não veio para nos dar novas escolas de farisaísmo, mas para nos despertar o gosto da autenticidade humana.
Sabemos muito bem que nada valem as maneiras suaves, a voz macia e empostada, os gestos de ternura dramática, se não formos por dentro o que mostramos por fora. E é uma ilusão estúpida pensarmos que essa disciplina exterior atinge o nosso í­ntimo. Nosso esquema interior de evolução não cede aos modismos e ás afetações do fingimento.
A moral não é produto do meio social, mas da consciencia. Seus princí­pios fundamentais estão em nosso í­ntimo e não fora de nós. A moral exterior vem dos costumes, mas a moral interior nasce das exigencias da nossa consciencia. A ideia de Deus no homem é a fonte dessa moral interna que supera o moralismo superficial da sociedade.
Nas sessões de desobsessão o que vale não é o falso moralismo dos homens, mas a moral legítima do homem. Essa busca do natural, do legí­timo, do humano, é a constante fundamental do Espiritismo.


Do livro O Espí­rito e o Tempo - Herculano Pires


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