O Brilhe a vossa Luz significa estimular o amor nos outros, porque em nós ele tem feito maravilhas; é inspirar humildade nos companheiros, pelo fato deles descobrirem em nossa conduta a coragem de sermos humildes; traduz-se na paz que ajudaremos a construir no próximo, a partir da que já se faz realidade em nosso íntimo; significa garantir a fé e a simpatia ao redor de nós pela vida convicta que levamos, com base nos valores abraçados como legítimos. (Vozes do Espirito)
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
CASAMENTO E DIVÓRCIO
Como seria a vida conjugal de Romeu e Julieta, se os jovens apaixonados sobrevivessem à tragédia do amor proibido, assim retratado por Shakespeare, no famoso romance?
Apesar de se amarem tanto, o matrimonio seria realmente harmônico e longevo?
E se eles vivessem em nossa época, marcada pela revolução dos costumes?
Estariam livres dos problemas de uma vida a dois?
Temas como casamento e divórcio, relacionados à Lei de Reprodução, contida em O Livro dos Espíritos, das questões 695 a 697, sempre despertam reflexões importantes.
Nas eras primitivas, o consórcio entre os casais apresentava natureza semelhante ao dos animais irracionais, uma vez que prevalecia o estado de natureza, com a união promíscua e fortuita dos sexos, em que o ser humano não tinha o senso moral desenvolvido.
O advento do matrimônio inaugurou um dos primeiros estágios de progresso nas sociedades humanas, porque instituiu a solidariedade fraterna, pelo consenso de duas almas que se unem pelos sentimentos recíprocos de afeto e de amor para a assistência mútua e para a constituição da família.
A comunhão sexual entre as criaturas que, de fato, se candidatam à elevação moral, “traduz a permuta sublime das energias perispirituais, simbolizando alimento divino para a inteligência e para o coração e força criadora não somente de filhos carnais, mas também de obras e realizações generosas da alma para a vida eterna”.
A família é uma instituição sólida, que varou os milênios, porque é de origem divina, tal como o casamento, que se destina “não só à conservação da Humanidade, como também a oferecer aos Espíritos, que se unem no grupo familiar, apoio recíproco para suportarem as provas da existência”.
Buscando- se no espaço, os Espíritos programam reencarnações para, no mesmo grupo familiar, consaguíneo ou não, darem sequência a projetos redentores. Por tais motivos, não procede a opinião de que o casamento e a família estão condenados ao desaparecimento.
Muitos casamentos têm curta duração ou apresentam problemas de incompatibilidade entre os pares, porque, na atual fase evolutiva da Humanidade, a grande maioria das uniões conjugais sujeita-se à lei de causa e efeito, a qual reaproxima seres em ligações expiatórias ou provacionais, para dar continuidade a relacionamentos anteriores, proporcionando o resgate de erros pretéritos, com vistas à reabilitação e ao progresso moral.
Ultrapassada a fase de encantamento e afetividade que ocorre no início do união, a vida apresentará aos casados, nessas condições, certos desafios, de acordo com as necessidades de cada um.
Ignorando o clamor da consciência e desconhecendo a origem verdadeira de seus dramas, cujas raízes geralmente estão fincadas em reencarnações passadas, muitos cônjuges desertam dos compromissos assumidos, em nome do comodismo e da falsa liberdade.
Mal sabem que estão apenas adiando compromissos e que em futuras encarnações estarão sujeitos a recapitular experiências difíceis, talvez numa situação muito pior, ainda que em companhia de parceiros diferentes.
O casamento independe de formalismos, embora estes tenham sua utilidade do ponto de vista jurídico, mas o que prevalece mesmo é a união dos sentimentos do amor verdadeiro. Mola do progresso da Humanidade, cuja abolição teria por efeito “uma regressão à vida dos animais”, o matrimônio é compromisso que implica, obviamente, em responsabilidade de parte a parte.
Antes de fazerem uma escolha tão séria, os nubentes devem refletir maduramente, para que não venham a ser infelizes nem promovam a infelicidade de outras pessoas, principalmente dos filhos.
Inspirados na literatura espírita, erigimos a seguinte classificação para a vida a dois, a qual, sem ser absoluta, auxilia os casais a se auto analisarem, com vistas à superação dos problemas em comum: casamento de amor (afinidade máxima – almas em apurada sintonia: ditosos os raros casais que estiverem incluídos nesta categoria); casamento de fraternidade (casais felizes, bem entrosados, que superam os problemas com facilidade); casamento de sacrifício (em que há renúncia de um dos cônjuges, em geral mais evoluído, com o propósito de auxiliar na educação do Espírito retardatário); casamento acidental (uniões eventuais sem planejamento espiritual, em regra por interesses imediatistas, que não raro conduzem os parceiros a uma saturação mútua e a um isolamento que, em pouco tempo, deterioram a relação conjugal); casamento provacional (almas que se reencontram para reajustes necessários à evolução de ambos: nesta modalidade de união, não basta reparar o erro, suportar o cônjuge difícil; é preciso também superar barreiras, exercitar o amor, o carinho); e casamento expiatório (cônjuges com graves débitos no passado reencarnatório, de convivência difícil e problemática: fase que antecede o casamento provacional).
Terapeutas e psicólogos, com base em pesquisas bem orientadas, constataram que o casamento dura quando um admite que o outro tem qualidades e defeitos, hipótese em que é necessário aprender a “renunciar, suportar a existência de sentimentos contraditórios, tolerar”, e que “um dos momentos mais marcantes na relação duradoura é aquele em que, conscientemente ou não, o casal abdica do mito do parceiro ideal”.
Estudos antropológicos revelam também que “homens e mulheres pensam diferente, reagem diferente, têm diferentes expectativas, e, sem uma boa dose de compreensão e boa vontade mútuas, não há união que resista ao embate [das diferenças]”.
No livro de auto-ajuda Homens são de Marte, mulheres são de Vênus, o terapeuta John Gray dedica-se a explicar algumas dessas diferenças, com o propósito de auxiliar os casais a se entenderem melhor.
Já a escritora espírita Dalva Silva Souza, conclui, na sua excelente obra Os Caminhos do Amor, que “o homem e a mulher, tanto na família quanto na sociedade, completam-se”, mas “o grande desafio está em se estabelecer uma interação harmoniosa que possibilite o equilíbrio”.
De fato, “o lar é o sagrado vértice no qual o homem e a mulher se encontram para o entendimento indispensável”, pois “é o templo onde as criaturas devem unir-se espiritual antes que corporalmente”.
A superação desses problemas exige permanente trabalho de entrosamento entre os cônjuges, sob o pálio da caridade, consistente na compreensão, no perdão e na tolerância.
Estudando o Evangelho de Jesus, à luz dos ensinamentos do Espiritismo, o casal terá meios de detectar, com maior segurança, a origem de seus problemas e enfrentá-los com as armas da razão e do sentimento.
Para auxiliá-los nesse mister, a realização do Evangelho no Lar e as preces constituem, também, excelente terapêutica.
Inobstante as diferenças de personalidade entre o homem e a mulher, próprias das circunstâncias que os ligam ao corpo físico, não se olvide que, enquanto entidades espirituais, são rigorosamente iguais perante Deus e têm os mesmos direitos, tanto que podem reencarnar ora num sexo, ora em outro, condição em que, por força das leis naturais, exercem funções diferentes.
Como adverte o Espírito Emmanuel,“ partindo do princípio de que não existem uniões conjugais ao acaso, o divórcio, a rigor, não deve ser facilitado entre as criaturas”.
Contudo, o divórcio “não é contrário à lei de Deus, pois apenas reforma o que os homens fizeram e só é aplicável nos casos em que não se levou em conta a lei divina”.
Portanto, é um erro considerar a indissolubilidade do casamento uma lei natural, uma vez que “o divórcio é lei humana que tem por fim separar legalmente o que já está,
de fato, separado”.
Nem mesmo Jesus consagrou a indissolubilidade absoluta do casamento, ao afirmar: “foi por causa da dureza dos vossos corações que Moisés permitiu que despedísseis as vossas mulheres”.
Muitas vezes, a separação é até mesmo necessária, para evitar que a experiência a dois se transforme numa tragédia e que um dos cônjuges ou ambos agravem os débitos contraídos em encarnações anteriores.
Em nosso Planeta de provas e expiações, o amor ainda é obra em andamento, que não se constrói com meras afirmações verbais.
Daí a necessidade das reencarnações, com o seu cortejo de experiências,a consolidar em nós, etapa por etapa, as virtudes que nos faltam para vivenciarmos integralmente as lições do Evangelho de Jesus, que nos legou exemplo inesquecível, independente do sexo e do estado civil das pessoas: “amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.
Que possamos, cada vez mais, enobrecer o casamento, contribuindo para o fortalecimento moral da família e da sociedade e preparando a Terra do futuro, para a vivência de elos de fraternidade pura, como já acontece nos mundos superiores.
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Christiano Torchi
Revista Reformador nº 2179 - Outubro de 2010
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