Os espíritos costumam reverenciar a renúncia como uma das virtudes mais elevadas do ser.
Emmanuel dedicou um livro inteiro ao estudo dessa qualidade, mostrada em sua expressão mais sublime através das vivencias de Alcione e Carlos, na Paris do reinado de Luís XIV.Uma leitura indispensável a quem deseja aprender a arte desse valor maior a ser conquistado pelo espírito imortal.
Diante de tão nobre virtude, podemos propor uma série de desafios ao ser humano, em face dos tempos em que a aferição de valores morais se faz imprescindível para a ascese fundamental.
Há quem torça pela renúncia do político corrupto. Há quem espere que ele reconheça a falcatrua cometida e devolva à sociedade o mandato que lhe foi confiado.
Há o filho que aguarda a renúncia do pai àquela velha postura autoritária e ultrapassada, de quem não é muito afeito ao diálogo e costuma impor o que bem lhe entende a quem lhe apareça pela frente, dentro de casa.
Mas há o pai que espera igualmente que o filho renuncie á inconseqüência, percebendo que chega uma hora em que é preciso tomar uma atitude em favor da responsabilidade, de acordar para assumir as rédeas da própria vida e começar a construir suas próprias metas.
Há quem espere da mulher amada a renúncia aos velhos clichês da superficialidade, insegurança crônica e falta de firmeza no controle de si mesma.
Mas há mulheres que aguardam de certos homens a renúncia definitiva ás âncoras arcaicas do machismo, da arrogância e de se achar dono da verdade e da falta de capacidade em dar o mínimo de carinho a quem diz que ama.
Há quem duvide que o ser humano seja capaz de renunciar a alguma emoção, ou a algum bem, ou a qualquer apego.
Mas há quem enxergue renúncia no silêncio vivido no momento certo, quando tudo era um convite à fala; na chance de gol oferecida de bandeja para outro jogador marcar, quando mais um tento daria o título de artilheiro a quem premiou o colega de equipe; no presente que me deram, mas que fica bem melhor se vestido, calçado ou lido pelo meu melhor amigo.
Há quem queira, mas não aprendeu ainda a renunciar.
Há, no entanto, quem sabe como fazer e não renunciar á chance de ensinar.
A poetisa Cecília Meireles, no livro Cânticos, trata disso ao escrever:
"Sê o que renuncia altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre a tua alma nas tuas mãos
E abre as tuas mãos sobre o infinito
E não deixes ficar de ti
Nem mesmo este último gesto!"
André Luiz considera também, acerca desta virtude, que "o verdadeiro amor é a sublimação em marcha, através da renúncia".
O benfeitor ainda ressalta que "quando o amor não sabe dividir-se, a felicidade não consegue multiplicar-se".
Que aprendamos a fazer da renúncia o instrumento de suporte à arte de viver momentos de desprendimento.
Certamente, os felizes com essa decisão seremos todos nós.
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Revista Reformador nº 2.175 de Junho de 2010
Autor Carlos Abranches
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