segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A PESSOA DO FUTURO


"Tu mesmo preparas muitas vezes os acontecimentos que hão de sobrevir no curso da tua existência" (O Livro dos Espíritos)

Muitas vezes, observando as características de uma criança, ficamos a imaginar o que a espera no futuro, as possíveis profissões para as quais poderá se inclinar, as dificuldades que terá, se aspectos da sua personalidade não forem corrigidos, e também o quanto será feliz, se algumas qualidades se mantiverem em sua conduta.
É também muito comum, numa espécie de devaneio, imaginar como estaremos no futuro ou pelo menos o que desejamos ser ou ter nos dias do amanhã e, conscientes do que precisa ser feito, nos esforçamos para a realização desses desejos.
Embora a sabedoria popular já tenha dito que "o futuro a Deus pertence", podemos pelos nossos esforços no bem preparar um amanhã mais ditoso, aqui ou no além, rompendo as repetições e condicionamentos que nos escravizam a um processo nitidamente neurótico.
Carl Rogers (1902-1987) psicólogo americano, humanista, escritor de vários livros e um dos precursores da psicologia transpessoal, ousou descrever quais seriam as características da pessoa do futuro a partir de seus largos estudos e observações como terapeuta, educador e pesquisador do comportamento humano.
Para ele a pessoa do futuro terá as seguintes características:

- Abertura
- Desejo de autenticidade
- Ceticismo em relação à ciência e à tecnologia
- Desejo de inteireza
- Desejo de intimidade
- Reconhecer-se sempre em processo evolutivo
- Dedicação
- Atitude em relação à natureza
- São pessoas anti-institucionais
- Autoridade interna
- Certa irrelevância aos bens materiais
- Anseio pelo espiritual

Estas 12 características nos suscitam vários questionamentos.
Um deles o de pensar se as famílias, centros espíritas e demais espaços educativos, em concordando com a visão de Rogers, estão preparados para a formação de um ser humano com este perfil.
Outra questão controversa é que ser anti-institucional pode ser também uma discordância da maneira pela qual as instituições se apresentam e se regulam e não uma oposição sistemática a toda e qualquer instituição.
Da mesma forma, ter ceticismo em relação à Ciência e à Tecnologia não significa negar sistematicamente os inúmeros benefícios que elas já puderam propiciar à Humanidade, mas questionar os interesses mercantilistas e hegemônico daqueles que delas se utilizam para lucrar, oprimir, aumentar a miséria, dominar com o poder do conhecimento, quando deveriam melhorar as condições de vida de todos os que se encontram na Terra.
A proposta de Rogers nos faz lembrar Allan Kardec quando este revela que a aristocracia do futuro será marcada por caracteres intelectuais e morais, isto é, que o ser humano do futuro utilizará a sua inteligência sempre de forma pacífica, benigna, a serviço do progresso coletivo.
A partir daí, começamos a pensar que esta oportuna síntese de Carl Rogers tem relação com a proposta espírita, com os caracteres do homem de bem, com a missão do homem inteligente na Terra, com a missão dos espíritas, em particular, e com a tarefa que nos cabe a todos como seres encarnados de um modo geral.
E que toda esta reflexão e ação deve ser permeada por uma necessidade constante de auto-conhecimento.
Não se trata de um exercício vazio de futurologia, mas de uma análise feita por um educador humanista do século XIX, sob a inspiração dos espíritos superiores, e de outra análise elaborada também por um educador, este do século XX, igualmente inspirada nas suas ricas e proveitosas experiências.
Que ambas nos façam refletir sobre como podemos empregar bem o nosso tempo, desenvolvendo em nós, agora no presente, as características da pessoa do futuro.


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Cezar Braga Said
Revista Reformador nº 2178 de Setembro de 2010


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